Bonecos de Santo Aleixo

Estes títeres tradicionais do Alentejo parece terem tido a sua origem na aldeia que lhes deu o nome. São títeres de varão, manipulados por cima, à semelhança das grandes marionetas do sul de Itália e do Norte da Europa, mas diminutos – de vinte a quarenta centímetros.
Na dinastia que ora estudamos e que vem dos meados do século XIX, foram “inventados” ou “reelaborados” os seus textos por um certo Nepomucena – o velho Nepomucena – guarda de herdades, segundo parece, natural de Santo Aleixo que vendo-se envolvido numa rixa de que resultou a morte de um homem, se refugiou em S. Romão, Vila Viçosa, perto da fronteira com Espanha, dedicando-se aí, para subsistir, ao ofício de “bonecreiro”.

Mestre Talhinhas, já falecido

O estojo de bonecos e textos tradicionais, que eram somente transmitidos via oral, chegaram às mãos de Ti’Manel Jaleca através de sua mulher, que os recebeu directamente dos seus antepassados.
Manuel Jaleca, que manteve o espectáculo durante algumas décadas, conheceu entretanto António Talhinhas, camponês dotado de grande poder de improvisação e cantador, que veio a imprimir grande dinâmica à companhia, acabando por comprar todo o espólio, passando Jaleca a seu empregado.

Ao que parece não são – ou melhor, não foram – os únicos “Bonecos de Santo Aleixo” que percorreram a nossa província. Já em 1798 o Padre Vicente Pedro da Rosa mandara apreender e queimar, defronte da sua casa uns títeres “a que chamavam de Santo Aleixo e em que figurava desonesta e vielmente um Padre Chanca”, no dizer do Padre Joaquim da Rosa Espanca, in “Memórias de Vila Viçosa”.
Estes, os Bonecos que hoje se apresentam, foram pretensa da família Talhinhas durante cerca de três décadas e a partir de 1967 “dados a conhecer ao mundo culto” por Michel Giacometti e Henrique Delgado.

Por volta dos anos 1975 ou 76 e ainda após uma tentativa por parte da Secretaria de Estado da Cultura para revivificar a sua apresentação, Talhinhas viu-se sozinho e impossibilitado de realizar o espectáculo. Foi somente em 1978 que o projecto de conservação dos Bonecos se pôde concretizar, graças à intervenção da Assembleia Distrital de Évora, que adquiriu todo o material ao Mestre Talhinhas.

O Centro Cultural de Évora ficou depositário de todo o espólio, e a recolha do repertório iniciou-se em 1980 com os ensaios de “manipulação” e “elocução” dirigidos pelo Mestre, trabalho que foi concluído durante o ano de 1994 com a recolha de todos os textos tradicionais que a excelente memória de Talhinhas conservou. As réplicas de hoje foram fielmente reproduzidas com a preciosa colaboração de Joaquim Rolo, artesão da aldeia da Glória e velho amigo da família Talhinhas.

Os Bonecos de Santo Aleixo, propriedade do Centro Cultural de Évora, são manipulados por uma “família”, constituída por actores profissionais, que garantem a permanência do espectáculo, assegurando assim a continuidade desta expressão artística alentejana. Os Bonecos originais, assim como o restante espólio adquirido a Mestre Talhinhas estão expostos no Teatro Garcia Resende , enquanto esperam a criação do Museu dos Bonecos integrado na rede museológica da cidade.

Conhecidos e apreciados em todo o país, com frequentes deslocações aos locais onde tradicionalmente se realizava o espectáculo, os Bonecos de Santo Aleixo participaram também em muitos certames internacionais fora do país (Espanha, Bélgica, Holanda, Inglaterra, Grécia, França, Moçambique, Alemanha, Macau, China, Índia, Tailândia, Brasil, Rússia e México) e são anfitriões da Bienal Internacional de Marionetas de Évora – BIME que se realiza desde 1987.

A pesquisa foi assegurada por Alexandre Passos que acompanhado por Manuel da Costa Dias garantiu também a recolha do repertório na primeira fase. A partir da fixação da nova “família” dos bonecos, a conclusão da recolha foi assegurada pelos actores que a constituem.