Entrevista a José Russo, do Cendrev

José Russo é o diretor do Cendrev – Teatro Garcia de Resende, em Évora. Nesta pequena entrevista fala-nos sobre os Bonecos de Santo Aleixo: os títeres que nasceram em Santo Aleixo.

– Como é que os bonecos de Santo Aleixo chegaram à Cendrev?

Em 1981, o Cendrev iniciou o processo que levou à recuperação deste espólio de teatro popular de bonecos do Alentejo, processo conduzido por Mestre António Talhinhas que com eles trabalhou mais de quarenta anos.

Os Bonecos de Santo Aleixo chegaram ao Teatro Garcia de Resende para aí constituírem uma nova família que continuasse o trabalho que outras gerações de titeriteiros garantiram ao longo dos tempos.

– Como é feito a recolha das histórias? Arquivo histórico? Ou já têm algumas vossas?

Tratando-se de uma expressão da tradição oral foi absolutamente determinante o papel de Mestre Talhinhas, último titeriteiro tradicional, no processo de recolha e fixação de todo o repertório, bem como na aprendizagem da realização do espectáculo. Com ele aprendemos a manipulação e circulação dos bonecos, as características de cada personagem, a intervenção musical assegurada, ao vivo, por uma guitarra portuguesa, a preparação do pês louro (resina de pinheiro) que garante os surpreendentes fogacheis, as pequenas velas dos anjos ou as bombinhas artesanais e a utilização da candeia de azeite que garante a iluminação do retábulo (pequeno palco) onde o espectáculo acontece.

A relação que ao longo de anos fomos criando com o Mestre foi determinante para o processo de aprendizagem que fizemos. Tratava-se de demonstrar a nossa capacidade para fazer o espectáculo que até aí só ele sabia fazer e ao qual dedicou mais de quarenta anos da sua vida. Abrir mão dos Bonecos e entregar todo o saber que guardava preciosamente a outra “família de bonecreiros”, não era obviamente fácil, daí a importância da relação de amizade e grande respeito que construímos com ele e a sua família. Relação que contribuiu, sem dúvidas, para o tranquilizar quanto ao novo destino dos seus Bonecos.

– Como nasceram os Bonecos de Santo Aleixo?

Já vão longe os tempos em que no Alentejo o teatro dos títeres era uma das poucas diversões das gentes destes lugares, mas a verdade é que, os “pícaros” e “atrevidos” bonecos não perderam o brilho e continuam a encantar o público na aldeia de Santo Aleixo que lhes deu o nome, nesses lugares do Alentejo perdido, onde a memória destas “figuras de pau” continua a alimentar conversas, mas também em muitos cantos do mundo onde a magia do espectáculo parece até fazer esquecer a barreira da própria língua.

– Qual o feedback que os Bonecos de Santo Aleixo têm pelo mundo fora?

Temos connosco um objecto artístico de enorme valia e particular importância no panorama do teatro de marionetas em todo o mundo que tem sido abordado em artigos publicados em muitos jornais e revistas (infelizmente mais no estrangeiro do que em Portugal) sendo escolhido como matéria de estudo para muitos investigadores que sobre ele se têm debruçado em diversas publicações.

– O que acham os estrangeiros? E os portugueses?

Os Bonecos de Santo Aleixo são naturalmente o nosso projecto com maior visibilidade no plano internacional devido às suas constantes participações em festivais internacionais da especialidade no estrangeiro, o acolhimento é sempre muito caloroso porque se estabelece uma enorme empatia com estas figuras de pau.

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