Entrevista a Francisco Félix, presidente da Associação Cão da Serra de Aires

– Faça uma breve história do Cão da Serra de Aires?

De entre as raças caninas portuguesas, o Cão da Serra de Aires – após o seu reconhecimento oficial na década de 50 até aos dias de hoje – viu continuadamente a sua existência muito ameaçada, ao ponto de se ter considerado quase extinto. De acordo com documentos que o atestam, o Cão da Serra de Aires é uma raça canina melhorada em Portugal em finais do século XIX pela mão do francês Jean Alfred Dupuy que além de agrónomo, era ainda um grande aficionado pela canicultura. Quando Dupuy chegou à Herdade da Serra de Aires, contratado pela família D´Andrade Castro Guimarães e apercebendo-se que os pastores eram auxiliados por cães que afinal podiam ser melhorados com uma raça mais homogeneizada e com aptidões quase exclusivamente ligadas à condução de gado, trouxe num dos seus regressos de França um casal de cães da raça Berger de Brie para que pudesse fazer o melhoramento.

O concelho de Monforte, onde se inclui a Freguesia de Santo Aleixo é,  efectivamente, o berço do Cão da Serra de Aires, após a entrada desse casal de cães trazidos por Dupuy, que depressa os resultados dos seus feitos espectaculares se espalharam a Herdades vizinhas e a sua descendência facilmente se expandiu por todo o Alentejo. Mas na década de 1980 volta a entrar em declínio, derivado da alteração do maneio dos efectivos pecuários, uso de aramadas com despensa de vigilância e condução.

– Quais as suas principais características?

É um cão de corpulência média, sub-longineo, excepcionalmente inteligente e muito vivo, dotado de rusticidade e sobriedade apreciáveis, muito dedicado ao pastor e gados que vigia. É esquivo para os estranhos e vigilante de noite, utilizado com mais frequência no Alentejo, na guarda e condução de rebanhos de ovelhas, cabras, varas de porcos, manadas e de piaras.

– Onde e como se distingue o Cão da Serra de Aires das outras raças?

Distingue-se pela forma hábil como mantém os gados nas pastagens, como os conduz e como busca animais que se tresmalham. Além disso, tem atitudes e aparência simiescas, pelo que, no seu solar, é conhecido pelo Cão Macaco.

– Qual o grande papel da Associação do Cão da Serra de Aires?

A ACSA – Associação do Cão da Serra de Aires – tem como objectivo incrementar actividades de salvaguarda, divulgação e promoção do Cão Macaco – Raça Portuguesa, Alentejana.

– Nas festas de Santo Aleixo já se realizaram, por duas vezes consecutivas, mostras e concursos desta raça. É para manter? Vamos ter nas Festas de 2017?

Fazia todo o sentido em trazer de volta à casa mãe o Cão Macaco. Daí, e em conjunto com o Município de Monforte e Junta de Freguesia de Santo Aleixo decidiu-se incluir o Concurso Regional nas Festas de verão. Este ano será 3º Concurso regional e é nossa intenção dar-lhe continuidade.

– Que tratamentos especiais deve ter o Cão da Serra de Aires?

Sendo um Cão rústico e sem subpelo – não muda o pelo – ,são necessários apenas os cuidados básicos como a sanidade e uma escovadela de quando em quando, para que não faça rástias. Mas há um dado curioso, em que noutros tempos eram tosquiados anualmente aquando da tosquia das ovelhas o que não deixa de ser saudável e higiénico.

– A eleição de um deputado pelo PAN e a respetiva maior visibilidade do mundo animal tem ajudado a Associação?

Será sempre positivo quando vimos salvaguardados os direitos dos animais.

– Qual é o futuro que deseja para a ACSA? Como vê a ACSA daqui a cinco anos?

Como se calcula, não tem sido fácil o caminho que esta equipa tem vindo a trilhar na revitalização da Raça. Um dos desejos será a filiação no CPC e fazer tudo o que esteja ao nosso alcance para tirar O Serra de Aires do buraco onde está metido que é a EXTINÇÃO. Daqui a 5 anos espero ter pelo menos estes dois problemas resolvidos, mas muito mais há fazer.

– O apoio da CM Monforte é fundamental para a ACSA. Que outras formas de apoio registam?

Claro que sim. Foi junto da Câmara Municipal de Monforte, na pessoa do Sr. Presidente Eng. Gonçalo Lagem e o seu Executivo, que encontrámos as condições necessárias para conseguir levar por diante medidas que preconizam e que, numa primeira fase, se canalizam para a eliminação de certos factores responsáveis para a debilidade da raça e que ficam a dever-se à falta da conjugação de esforços norteados com esse propósito.

A Autarquia é proprietária das instalações afectas ao CRRA – Centro de Reprodução do Rafeiro do Alentejo – através do qual tem estado a desenvolver, nos últimos anos e em colaboração com a ACRA – Associação de Criadores do Rafeiro do Alentejo, um programa de melhoramento e divulgação dessa outra raça canina Alentejana. E, considerando que, para além de outras razões, as funcionalidades das duas raças caninas se complementam, sendo ambas extremamente úteis em determinadas  circunstancias de manutenção de rebanhos, compreende-se que o actual Executivo Camarário fosse receptivo a esta parceria, tendo em conta que Monforte, mais propriamente a Freguesia de Santo Aleixo, é o berço do Cão da Serra de Aires.

Em relação a outro tipo de apoios, todos sabemos a conjuntura económica em que vivemos e dai não ter sido fácil e não está a ser fácil.

– Qual é a principal missão da ACSA?

A ACSA tem o intuito de dar um maior incremento a um trabalho de conservação, fomento, estudo, promoção e divulgação do Cão da Serra de Aires – Raça Portuguesa Alentejana, Património Animal e Cultural (com forte incidência no campo imaterial PCI ), com identidade demarcada, que se constitui também como um produto turístico. A ACSA propõe-se a dar um contributo de grande atractividade da região e seu desenvolvimento.

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